Poesia (ou prosa?): Porque a Revolução nunca aconteceu no Brasil?










Quando a Independência ocorreu, foi assim: 


o senhor distinto que estava em viagem se indignava, 


o regente rasgava as cartas enquanto se arrumava,


e o caboclo, distante, a tudo observava.





Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.




Quando a República foi proclamada,


com a procissão pelas ruas anunciando o novo dia,


e o novo Presidente saudando o imperador que ia,


o ex-escravo, por perto, em tudo assentia.





Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.





Quando Getúlio ameaçou invadir o Catete,


e proclamou o Estado Novo pela Rádio Nacional


o trabalhador ouvia o discurso, embebido pela cal,


e a dona de casa esperava pela novela.





Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.





Quando os militares anunciaram novos tempos,


baixaram o Ato, sentaram o cacete em nome da Revolução.


Mas o cara do povo, pacato e nobre cidadão,


se embasbacava com os 10% de crescimento, o milagre.





Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.





Veio a Nova República, desforra, a "Constituição cidadã".


Direitos fundamentais, revolução, uma elite satisfeita,


para desespero de muitos, gente considerada direita.


Mas o homem do povo, esse, como o "nove", não sabe de nada.





Não concorda. Nem discorda. Só cuida da vida.





Hoje, passeatas pelas ruas, redes sociais, lugares de fala.


Muita gente dizendo o que acha, palavras gritadas ao vento.


Mas o povo - velho e novo - não tem tempo para lamento.


Como lá no passado, e hoje, só consegue pensar no agora.





Não concorda. Nem discorda. Cuida da vida.





E só quer, de fato, uma coisa: 


que não fiquem em seu caminho.








fps, 19/05/17


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